quarta-feira, 1 de julho de 2009

Marcas eficientes e marcas com magia

O fígado é a maior glândula do corpo humano.

Participa do processo de digestão, armazena vitaminas, minimiza o efeito das drogas, auxilia a coagulação do sangue e efetua mais de duzentas outras funções interligadas. É eficiente, mesmo quando cortado pela metade.

Já foi famoso na história, em uma tragédia grega, possivelmente escrita por Ésquilo. Nela, Prometeu roubou o segredo do fogo e deu aos homens, assegurando sua superioridade perante todos os animais. Mas o fogo era exclusividade dos deuses. Zeus castigou Prometeu, abrindo-lhe a barriga e colocando um corvo do seu lado para lhe comer o fígado. O castigo deveria durar 30.000 anos. Por ser imortal, seu fígado se regenerava.

Se o fígado fosse uma marca, mesmo com toda a comprovada eficiência e o referencial histórico, seria pouco para conquistar sucesso.

É comum marcas que são eficientes na venda do produto, que demonstram planejamento adequado e que tratam com zelo o que é entregue ao mercado, não serem relevantes nem importantes.

Outras, conseguem ser eficientes como devem ser, mas têm algo a oferecer além da eficiência: a magia na relação.

Tive oportunidade de participar das duas apresentações do Cirque Du Soleil no Brasil. Saltimbanco, no Rio de Janeiro, foi sensacional, sentimento esperado dada a expectativa criada e reprimida pelos muitos anos em que o Cirque não veio ao país. A segunda vez, Alegría, em Curitiba.

Quem assistiu, sabe que não há nada de novo nas apresentações. Todas as atrações são as mesmas que conhecemos de outros shows circenses ou mesmo de filmes sobre o tema. Não há nada que possa surpreender como atração, algo de original ou inovador.

O que surpreende é a perfeição na execução.

É ter a certeza de que, mesmo com o fio de aço preso na cintura da menina chinesa do trapézio, ela não cairá. É a convicção de que este mesmo fio de aço, usado pelo russo em sua apresentação nas cordas, não será necessário. É saber que o treino diário de 6 horas acontece em respeito ao público, que investe muito e recebe pelo que paga (espetáculo Quidam, dezembro2009=média de R$ 480,00, máximo de R$ 650,00).

Segundo Keller e Machado (2006) nem todas as associações são valorizadas pelo consumidor. Algumas podem até permitir inferências sobre a qualidade do produto, gerando boa vontade em relação à marca, mas não necessariamente serem consideradas significativas para a decisão de compra.

A marca canadense Cirque Du Soleil supera a expectativa ao ser perfeita na execução do que se propõe. Com isto, consegue obter sucesso mesmo estando em um segmento de mercado que só tem decrescido. Não trouxe nenhuma novidade tecnológica. Não tem artistas famosos. Não vende nenhum bem, só uma ideia: oferecer entretenimento superior por 2 horas, com um estilo de vestir multicolorido e de bom gosto, música ao vivo de qualidade e um ambiente nitidamente pendendo ao sofisticado (ao invés de palha no chão, carpet; ao invés de madeira para sentar, cadeiras estofadas com couro; ao invés de vento, ar condicionado que funciona; ao invés de eco ao microfone, surround inacreditavelmente bom).

Fatura em média U$ 700 milhões por ano e para a produção de um único espetáculo seu, o KA*, baseado em artes marciais, que acontece em Las Vegas, no MGM Hotel, teve o custo de U$ 165 milhões. Em média, 40% do faturamento é reinvestido no treinamento das pessoas e na produção dos espetáculos.

Para ser cada vez mais perfeito. Só.




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Você pode assistir uma prévia do espetáculo KA nos links:

http://www.mgmmirage.com/ka/?gclid=CNbXh4_6tJsCFc5L5Qod_RGCPQ (site oficial do show)
ou
http://www.youtube.com/watch?v=y4a2wfErOQw

3 comentários:

  1. Muito bom o post, recomendei no meu twitter. Como sugestão acho que vc já pdoeria colocar essas duas indicações de vídeo ali em cima, como link... mas de resto, ta mandando bem !! Grande abraço Edson !

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  2. Já deparei com a escolha entre KA ou Blue Man Group. Toda a magia do Cirque Du Soleil influenciou a escolha, mesmo com o outro espetáculo sendo a "sensação" do ano...
    Falando nisto, achas que a TIM realmente aproveitou o Blue Man Group na íntegra? Eles ainda não tem TANTO prestígio no Brasil, eu acredito que não foi o momento certo de usar o grupo...

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  3. Também penso assim, Halissa! Estiveram no Brasil em 2007, com uma seleção de shows patrocinado pelo cartão MasterCard. Na ocasião, não obtiveram, infelizmente, o destaque que merecem. Mas tens que concordar que a ideia criativa das "letrinhas" é sensacional...

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